terça-feira, 30 de abril de 2013



Escolhas: medo x luz e paz interior

por INSTITUTO LOTHUS - Denise Constantino - deniconstantino@gmail.com

Você já reparou que a maioria dos filmes na TV e nas locadoras são de suspense, terror, policiais ou ação, isto é, filmes que tratam ou envolvem alguma forma de violência e agressividade? Poucas são as estórias sobre situações positivas da vida, compreensão, otimismo... Até mesmo as comédias que deveriam ser estórias leves e divertidas, ultimamente têm trazido situações que fazem graça às custas de cinismo e da exposição dos personagens ao ridículo, formas também agressivas de tratar o humor. E nessa lista não podemos deixar de lado nem mesmo os desenhos infantis que tratam de grupos do bem e do mal, uns contra os outros, numa luta em que vence o mais poderoso e mais bem armado de engenhocas poderosas...

Na verdade, o que estamos fazendo é trazer para dentro de casa essa agressividade e violência; mas continuamos criticando a violência no mundo atual... somos contra o que ouvimos nos noticiários... não nos conformamos com as situações em que bebês são abandonados, filhos agridem pais, pais agridem filhos... situações em que grupos reunidos para torcer por um esporte – atividade tão saudável – acabam por agredir e causar danos graves uns nos outros...

Mas o que há de tão prejudicial na violência e agressividade?

Deixam uma sensação de medo, insegurança, incerteza. Por mais que se diga que já foi desenvolvido um antídoto interno contra essas sensações, elas podem nos afetar bem no fundo da alma. E minam nossa sensação de segurança. E reforçam duas possíveis posições: o herói e a vítima. A vítima permanece na posição de sofrimento e dor, insegurança e medo; e o herói aparece como o dominador, o poderoso que faz uso de artimanhas e estratégias para vencer a batalha. E então, mesmo que exista um herói na estória, antes (e se!) dele conseguir salvar alguém, muito medo acontece, muitas situações de perigo aparecem e trazem com elas as sensações de insegurança.

Isto faz com que nosso sistema nervoso, que reage a qualquer sensação de medo ou insegurança sem fazer diferença entre situações reais ou irreais, reaja à violência das estórias como se tudo fosse real e a adrenalina “rola solta” no corpo... e as conseqüências disso também... na forma dos sintomas tão conhecidos de aceleração do ritmo cardíaco, respiração curta ou mesmo interrupção da respiração, além de outros que, com a repetição, tornam-se cada vez mais freqüentes até virarem crônicos. Isto para se falar apenas do corpo físico.

Será que alguém que vive sob tensão e ameaças de perigo - reais ou irreais - mentalmente vividas nas estórias, pode sentir-se uma pessoa tranqüila?

E aí vem a pergunta: Por que a grande maioria das pessoas procura sentir medo, insegurança, curte o perigo? Porque essa mentalidade de “curtir perigo” se esparrama pelo mundo? Será que essa neurose por curtir uma pressão emocional não tem a ver com a violência que se espalha pelo mundo?

E você pode me dizer: "Não, a situação é inversa... eu me sinto pressionado e assustado por causa do que acontece no mundo."

E eu retomo a questão: Você já assistiu a um filme americano que mostra cenas parecidas com algo que abalou o mundo em 11 de setembro? E podemos ir ainda mais além: já se fala com mais freqüência sobre casos de crianças que atormentam outras sem causa aparente – o chamado “booling” – simplesmente por prazer de "torturar" mentalmente seus eleitos... Crianças viram gente grande... E que mundo estamos criando?

Violência não é só praticada pelo uso de uma arma. Mas também é a permissão de deixar que pensamentos e sentimentos violentos entrem em sua casa, na mente de seus filhos e em sua mente. O que nosso mundo está ganhando semeando a sensação de medo, insegurança e dúvida? Para que isto está servindo? Porque será que cada vez mais pessoas estão doentes, depressivas e cada vez são mais freqüentes os casos de pânico? E as atitudes irrefletidas como abandonar bebês, assassinar pais, colegas e professores: será que isto não tem a ver com todo esse redemoinho de emoções violentas acalentadas pela midia, por produtores de filmes, programas de TV, novelas, por certos governantes que violentam nossa capacidade de acreditar no bom senso e na justiça?

... Interessante pensar que os filmes românticos, as estórias com final feliz, com uma lição de moral e amor fiquem nas prateleiras...

... Interessante perceber que falar de amor, companheirismo, paz interior, muitas vezes recebe um riso irônico, se não de descrença, como se isto fosse uma mera ilusão...

E aí eu pergunto: Em que tipo de mundo você está vivendo? E... em que tipo de mundo gostaria de estar vivenco? Esse paradoxo é coisa para se pensar...

E pergunto mais: onde fica a responsabilidade de cada um de nós nesse processo
de violentação do mundo? Será que cada um de nós não tem sua dosezinha de participação nisso? Na maneira de responder às pessoas, em não ouvir o que dizem, na desconsideração com os outros, no egoísmo disfarçado em individualidade e auto-cuidado que, na verdade, é apenas um culto do ego adoecido... na maneira de ensinar os filhos a tirar proveito das situações sem se importarem com o outro envolvido (bastante parecido com o que estamos vendo acontecer nos mais diversos níveis da sociedade...)

Será que nós também não somos responsáveis por estarmos, no mínimo, sendo cúmplices disso tudo? E a cumplicidade pode começar da forma mais concreta ao deixarmos cenas violentas e assustadoras entrarem em nossas casas...

Será que, assim como os preços do supermercado abaixam se deixarmos de comprar um item, também podemos interferir nos filmes e programas da TV, desenhos ou novelas, deixando de dar ibope para os violentos e destrutivos exigindo mensagens mais construtivas e éticas?

E pode ser que alguém aí do outro lado esteja pensando: "Mas isso é coisa que o governo precisa fazer...", num movimento de tirar o seu barco da água e jogar a responsabilidade nas mãos do outro... o que, no mínimo, vai trazer pra você dependência do outro e das escolhas do outro...

A responsabilidade do que vivemos é também de cada um de nós! O que você está escolhendo para sua vida? Qual é a sua escolha? Qual é a sua? Pense nisto: para que serve o cultivo da dúvida, do medo, da agressividade e da violência? De que forma você reage a essas emoções e sensações? Como fica a sua possibilidade de ação e intervenção?
A que isto está servindo? Para onde está levando?

“Reclamol” não muda nada. O que muda é escolha e atitude.

Nenhum comentário:

Postar um comentário